Mudando meus hábitos no consumo de pescado
O Ano Internacional da Pesca e Aquicultura Artesanal está chegando ao fim... o que posso fazer em 2023?
Assim como na produção de hortaliças, as grandes empresas dominam o mercado de pescado devido a alguns fatores:
- maior estrutura de distribuição e fornecimento;
- maior poder de marketing;
- produção em larga escala, reduzindo seus preços unitários e tornando mais acessível ao consumidor.


Mas porque os produtos da pesca artesanal dificilmente chegam nas cidades não-litorâneas?
1 - A pesca artesanal, em geral, não possui a estrutura de distribuição das grandes indústrias e os pescadores, que chegam a ficar até 10h no mar pescando, não conseguem também se dedicar à comercialização.
2 - Há poucas políticas públicas e fomentos à estruturação das comunidades tradicionais de pesca para que estejam regularizadas com requisitos e selos sanitários que as habilitem a comercialização a supermercados, empórios e outros estabelecimentos.
3 - Atualmente, quando chegam, têm menor demanda de consumo que espécies já tradicionais, de pescas ou cultivos de outros países e estados, como salmão, bacalhau, tilápia, atum e merluza.
Entendendo esse contexto desfavorável, a Olha o Peixe atua há 4 anos como elo entre a pesca artesanal e a sociedade, trabalhando em parceria com as comunidades pesqueiras na compra de pescado a valores justos para comercialização a regiões não-litorâneas. Além da própria venda, entendendo a lacuna de informação, trabalhamos para capacitar consumidores a respeito das safras, status de conservação, características das espécies, formas de pescaria e também receitas e usos para cada pescado local.
Dessa forma, queremos estimular o consumo de produtos da pesca artesanal, para aumento da renda de pescadoras e pescadores, bem como redução de desigualdade socioeconômica, com fortalecimento da economia local, e promoção de um consumo de pescados menos impactante.
Ainda, recentemente a Olha o Peixe produziu um passo a passo didático para contribuir com a estruturação do beneficiamento e comercialização de pescados das comunidades tradicionais do país, com a intenção de auxiliar a pesca artesanal no acesso ao mercado de consumo de pescados.

E porque seria importante que priorizássemos pescados da pesca artesanal?
- Por serem pescarias diárias, o peixe pescado pela pesca artesanal é limpo no mesmo dia em que sai do mar, e tem maior frescor por isso.
- Com pescarias diversificadas e com menor poder de captura, o impacto da pesca artesanal, de pequena escala, é menor se comparado às grandes embarcações industriais.
- Apoiando a categoria, estamos não só fortalecendo a economia local como fomentando a manutenção das tradições pesqueiras e os modos de vida dessas comunidades historicamente vinculadas aos nossos litorais.
Como posso mudar meu hábito, para consumir um pescado local da pesca artesanal?
- Se tiver acesso, compre direto das embarcações de pescadores ou vá em bancas de peixe de pescadoras e pescadores locais.
- Se não tiver acesso, busque iniciativas que levam o pescado local, da pesca artesanal, até você, como a Olha o Peixe.
- Esteja disposta(o) a desbravar novos sabores e opções. Há muitos peixes e frutos do mar da pesca artesanal com preço baixo, qualidade nutricional, sem espinhos e excelente sabor.

Sugestões de alternativas locais:
Alternativa à posta de cação: posta de cavala (serra, sororoca), posta de bagre.
Ao filé de tilápia e de merluza: filé de pescadinha, de betara (papa-terra), de peixe porco (peroá).
Ao filé de salmão: filé de cavala, de robalo, de linguado, de pescada branca, de pescada amarela, de paru, de prejereba, etc.
Ao filé de atum: filé de atunzinho (também chamado de bonito).
Ao bacalhau: cambira (peixe defumado, como a tainha ou cavala) ou peixe seco (salgado e desidratado, assim como feito com o bacalhau).
SAIBA MAIS SOBRE O ANO INTERNACIONAL DA PESCA E AQUICULTURA ARTESANAL:
ONU Brasil: https://brasil.un.org/pt-br/159831-fao-lanca-ano-internacional-da-pesca-e-aquicultura-artesanais-2022
Saúde dos Oceanos e Pesca Artesanal
Você sabia que o período entre 2021 e 2030 foi batizado pela ONU como a Década dos Oceanos?
Isso se explica pela necessidade de conscientizarmos a população sobre a importância deles, e unir entidades e pessoas em prol de ações que mudem esse cenário de perda de biodiversidade e prejuízo a saúde de nossas praias e mares.
A situação é extremamente preocupante e a mudança de cenário é urgente. Para isso, precisamos entender que o planeta está todo conectado, que o ciclo das águas vai do continente aos oceanos e que o que fazemos em nossa cidade também está relacionado a eles. Portanto, o que consumimos, as escolhas que fazemos e o conhecimento que propagamos tem papel fundamental na mudança que queremos construir.
Não sei se você sabe, mas em 2015 um pacto global por um mundo mais sustentável foi traçado com o fim de alcançar um futuro melhor para a Terra. Deste pacto, durante a Cúpula das Nações Unidades sobre o Desenvolvimento sustentável, foram definidos os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Dentre eles, o de número 14 é o Vida na Água: “Conservar e usar de forma sustentável os oceanos, mares e os recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável”.
Mas como a Olha o Peixe fala de sustentabilidade e futuro dos oceanos, promovendo o fortalecimento da pesca artesanal, que é uma atividade de extração de recursos marinhos?
Para isso é importante olharmos a sustentabilidade pelas lentes de seus 3 pilares: ambiental, econômico e social.
Economicamente, a pesca artesanal fortalecida e estabelecida no mercado traz a possibilidade de geração de renda descentralizada, isto é, dividida entre milhões de pescadoras e pescadores do Brasil, que trabalham sem vínculo empregatício, geralmente em relação familiar ou vicinal, com foco na subsistência e no mercado local, e com baixo uso de tecnologia. Ou seja, apoiar a pesca artesanal é priorizar a redução da desigualdade econômica, o fortalecimento da economia local e o acesso a um mercado mais justo.
Socialmente, priorizar a pesca artesanal é contribuir com a manutenção de tradições passadas há centenas de anos de geração em geração no litoral brasileiro, raiz de diversas culturas importantes no país, que tinham como base uma relação harmoniosa e de co-dependência com a natureza. Ainda, é hoje uma das formas de dar protagonismo a mulheres pescadoras e jovens na construção de uma nova realidade no mercado pesqueiro.
Sob o ponto de vista ambiental, o poder de captura da pesca artesanal é consideravelmente menor que da pesca industrial. Por exemplo, sabe-se que embarcações industriais, operadas por poucos pescadores, vinculados a grandes empresas pesqueiras (com foco em exportação e mercado nacional), realizam pescarias de dias e podem armazenar em seus porões mais de 100 toneladas de pescado. Essa quantidade corresponde a mais do que o capturado pelas centenas de embarcações artesanais de Pontal do Paraná no período de 3 meses!
Além da capacidade de captura e armazenamento, a pesca artesanal tem menor área de atuação e um foco em maior diversidade de espécies na comercialização. Matematicamente, quanto maior a diversidade de espécies-alvo e menor o poder de captura, menor a mortalidade das espécie e maior a possibilidade de reprodução, caracterizando-se como mais sustentável.
É certo que qualquer pescaria terá impacto e que a cada dia precisamos ter uma gestão pesqueira mais eficiente e responsável. Por isso, a Olha o Peixe não trabalha com espécies ameaçadas de extinção, respeita os períodos de reprodução das espécies e atua na divulgação de conhecimentos como esse.
A pesca só terá possibilidade de se manter de pé se coexistir com um oceano saudável.
Nesse ano de 2022, declarado como o Ano Internacional da Pesca e Aquicultura Artesanal pela FAO (braço da ONU para assuntos de alimentação), precisamos dar mais visibilidade a este setor, responsável pela segurança alimentar de centenas de comunidades tradicionais. Por isso, trabalhamos em convergência com a Meta 14.b da ODS 14:
“Proporcionar o acesso dos pescadores artesanais de pequena escala aos recursos marinhos e mercados.”
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Que tal nos ajudar a disseminar esse conhecimento, adaptar nossos hábitos e construir a mudança para oceanos mais saudáveis?
REFERÊNCIAS:
IPEA: https://www.ipea.gov.br/ods/ods14.html
ONU Brasil: https://brasil.un.org/pt-br/159831-fao-lanca-ano-internacional-da-pesca-e-aquicultura-artesanais-2022
https://brasil.un.org/pt-br/125309-decada-da-ciencia-oceanica-e-lancada-oficialmente-no-brasil
FIA: https://fia.com.br/blog/ods/