Projeto Pesca Artesanal Lixo Zero: sustentabilidade que começa no mar e chega até casa dos paranaenses

O projeto pesca artesanal lixo zero representa o compromisso da Olha o Peixe com um modelo sustentável que começa no mar e chega à sua casa. Com apoio da Fundação Grupo Boticário, essa iniciativa visa eliminar o desperdício na pesca artesanal do litoral do Paraná, aproveitando integralmente cada parte do pescado para gerar alimento, biogás, arte e compostagem, beneficiando comunidades e o meio ambiente.

O que faz o projeto pesca artesanal lixo zero

A Olha o Peixe desenvolveu o projeto pesca artesanal lixo zero para enfrentar um problema global: cerca de 35 % do pescado é descartado. Segundo a FAO (2018), boa parte desse desperdício acontece tanto no momento da captura quanto no processo de preparo.

E a pesca artesanal, apesar de seu baixo impacto ambiental, ainda enfrenta desafios importantes nesse cenário, especialmente na destinação de resíduos e no aproveitamento de espécies com menor valor comercial.

Foi diante desse cenário que criamos o Projeto Pesca Artesanal Lixo Zero, com apoio da Fundação Grupo Boticário, por meio do programa Teia de Soluções.

Impacto e replicabilidade do projeto pesca artesanal lixo zero

A Olha o Peixe existe para fortalecer a pesca artesanal e oferecer pescados sustentáveis para consumidores conscientes. Um dos nossos principais compromissos é evitar o desperdício e valorizar espécies locais pouco conhecidas, que muitas vezes são descartadas simplesmente por não terem saída comercial.

Além disso, os resíduos da pesca ainda são, em muitos casos, descartados no mar, nas praias ou em aterros sanitários. Isso traz impactos como:

  • Riscos a turistas (acidentes com espinhas)
  • Mau cheiro e atração de vetores
  • Contaminação de lençol freático
  • Gastos públicos com destinação inadequada

Com o Projeto Pesca Artesanal Lixo Zero, estamos desenvolvendo soluções reais e replicáveis para mudar esse cenário.

O que o projeto faz na prática?

Estamos implementando um modelo estrutural de aproveitamento total do pescado, com uso de equipamentos e estrutura industrial leve. Confira o destino de cada parte do peixe:

1. Espinhas → Carne mecanicamente separada (CMS)

As espinhas passam por uma despolpadeira que separa a carne restante. O resultado? Base para bolinhos, hambúrgueres e linguiças de peixe.

Imagem: Espinhas de peixe (2025)

2. Couros → Artesanato

Os couros são congelados e enviados para o projeto Couro de Peixe e outras iniciativas que os transformam em peças artesanais.

3. Peixes pouco valorizados + partes menos nobres

Essas partes viram salgados, caldos, tortas e pratos prontos, preparados em nossa cozinha industrial.

Imagem: Cabeça de peixe e sugestão de preparo (2025)

4. Vísceras e sobras → Biodigestor

O que não serve para consumo humano vai para o biodigestor, que gera:

  • Adubo líquido e sólido para agricultura
  • Biogás, que pode ser canalizado para uso na cozinha industrial

E o melhor: esse projeto é replicável

Além de colocar esse modelo em prática na Olha o Peixe, vamos disponibilizar:

  • Guias e conteúdos gratuitos para replicação do projeto em outras localidades
  • Visitas técnicas e trocas com interessados na cadeia da pesca artesanal e da sustentabilidade

Nosso objetivo é que outras comunidades também possam transformar seus resíduos em oportunidades.

Acompanhe todas as atualizações do nosso projeto aqui

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Sobre a Olha o Peixe!

A Olha o Peixe é um empreendimento social que nasceu para fortalecer a pesca artesanal e levar pescados sustentáveis aos consumidores, garantindo rastreabilidade, qualidade e apoio às comunidades pesqueiras do Paraná. O projeto conecta quem pesca e quem consome, promovendo um modelo de comércio justo e consciente.

Todos os produtos podem ser encontrados no site:
Compras avulsas: loja.olhaopeixe.com.br/todos
Clube de Pescados: loja.olhaopeixe.com.br/clube

Mais informações:
Instagram: @olhaopeixee


Agosto, o mês do desgosto

Você já ouviu esse dizer acima?

Na pesca artesanal do Paraná é muito comum ouvirmos das pescadoras e pescadores essa referência ao mês de agosto. Isso porque tradicionalmente este é um mês de dificuldades na pesca: são poucos dias de pescaria, e, nesses dias, geralmente poucas capturas de pescado.

E não é uma lenda popular, faz muito sentido! E vamos te explicar porque, com 3 motivos principais:

1 - Influência das Marés

No período de agosto a setembro estamos próximos do equinócio da primavera, e por conta da atração gravitacional nessa relação da posição do Sol com o Planeta Terra, temos marés muito altas.

Com essa intensidade das marés, ocorre o que os pescadores chamam de "força de maré", que atrapalha muito a pescaria com redes, já que elas embolam na tentativa de capturar um cardume, ou se deslocam grandes distâncias quando deixadas no mar de um dia para o outro.

Como se não bastasse essa influência, as marés mais fortes desse período também podem sofrer duas influências: as fases da lua, e a condição meteorológica. Se já sabemos que em agosto e setembro temos tendência a marés fortes, imagina quando somamos essa condição a uma semana de lua cheia ou lua nova? Esse efeito se potencializa.

E como se não bastasse, a meteorologia também vai influenciar…

2 - Ventos fortes e frequentes

Neste mês também é muito comum vermos o tempo instável, com mudanças bruscas de temperatura no Paraná. Além disso, é comum no litoral termos semanas inteiras de ventos fortes, sobretudo vento sul (trazendo frente fria).

Com esses vários dias e ventos (correspondendo geralmente a metade do mês ou até mais), o mar também fica agitado e o risco na navegação e uso de redes no mar se torna muito alto, fazendo com que os pescadores prefiram ficar em casa. Com essa decisão, eles deixam de obter renda na pesca, mas ao mesmo tempo evitam o risco de terem prejuízo com perda de redes, embarcação estragada ou até mesmo risco de vida à tripulação.

3 - Período entressafra

Em agosto, por entrarmos num período de final dos dias mais frios e início dos dias mais quentes, também percebemos essa dinâmica na temperatura das águas. Dessa forma, é comum que espécies de pescados com safra no inverno (com águas mais frias, como tainha, linguado, camarão branco) comecem a deixar de aparecer na costa do Paraná, ao mesmo tempo que as espécies de águas mais quentes (como peixe porco, salteira, bagre, paru) ainda não estão ocorrendo em nosso litoral.

Assim, agosto se torna um mês de muita incerteza e pouca captura de pescados pelas comunidades de pesca artesanal do Paraná. Isso reflete diretamente na renda dos pescadores nesse período: se não tiveram boas capturas de cavala e tainha no frio, dificilmente terão reserva financeira e passarão por um período de grande dificuldade econômica.

Agora que você já conhece porque agosto costuma ser o mês do desgosto na pesca paranaense, topa ser parte da rede que fortalece o trabalho dessas famílias do nosso litoral?

Compre pescados da Olha o Peixe e apoie uma causa importante, recebendo em casa pescados mais sustentável, de qualidade e com muita informação de qualidade para facilitar o seu preparo!

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A Década dos Oceanos (2021-2030): por que não falamos dela?

ODS 14 e Década dos Oceanos

Faltando 7 anos para o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), aproveito para trazer uma breve análise de uma das ODS que hoje a Olha o Peixe tem maior contribuição, além de estar intimamente relacionada à formação da nossa equipe, em maioria Oceanógrafos e Oceanógrafas: a ODS 14 - Vida na Água, que trata da "Conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável"

As metas associadas a esse Objetivo (confira aqui) abrangem:

- Redução da poluição marinha
- Gestão sustentável dos ecossistemas marinhos e costeiros
- Redução dos impactos da acidicação dos oceanos
- Pesca sustentável e regularizada
- Criação de áreas marinhas protegidas
- Aumentar o conhecimento científico em tecnologia marinha
- Fortalecer o acesso e o mercado da pesca artesanal (ONDE PRINCIPALMENTE ATUAMOS)
- Criação de políticas públicas para conservação dos oceanos e uso sustentável de seus recursos

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Os desafios não só para o Brasil, como para os demais países é complexo, mas possível. E devemos entender a pertinência desses temas e urgência de uma atuação, seja como indivíduos, instituições ou governos. Pois nós mesmos sentiremos o impacto da falta de ação e engajamento em prol dos oceanos.

E por todo esse cenário problemático e carência de ações concretas, 2021 a 2030 foi declarado pela ONU como a Década dos Oceanos, mas você já tinha ouvido falar disso?

Ou melhor, vê com constância na televisão, internet ou jornal o tema?
Na sua opinião, porque falamos pouco sobre os oceanos e sobre a Década, mesmo grande parte da população brasileira vivendo em região costeira?

Se analisarmos ainda como o Brasil conduz os esforços em relação a ODS 14, o cenário é ainda mais preocupante: temos hoje apenas 10 indicadores criados para monitoramento dos avanços em relação às metas estabelecidas para ela. Dos mesmos, temos 5 deles sem dados no país para análise, 2 em análise/construção e somente 3 produzidos e tendo monitoramento. São eles:

- Número de países com progressos na ratificação, aceitação e implementação, através de quadros legais, políticos e institucionais, de instrumentos relacionados com o oceano que implementam o direito internacional, tal como refletido na Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, para a conservação e uso sustentável dos oceanos e seus recursos: Em análise/construção

- Progresso dos países relativamente ao grau de aplicação de uma estrutura (enquadramento) legal/ regulamentar/político e institucional que reconheça e proteja os direitos de acesso dos pescadores de pequena escala: Produzido

- Proporção do total do orçamento de pesquisas alocado para pesquisas na área da tecnologia marinha: Em análise/construção

- Pesca sustentável como uma proporção do Produto Interno Bruto (PIB) de pequenos Estados insulares em desenvolvimento, (Small Islands Developing States), de países menos desenvolvidos e todos os países: Sem dados

- Progresso dos países, relativamente ao grau de implementação dos instrumentos internacionais visando o combate da pesca ilegal, não registrada (declarada) e não regulamentada (IUU fishing): Produzido

- Cobertura de áreas marinhas protegidas em relação às áreas marinhas: Produzido

- Proporção da população de peixes (fish stocks) dentro de níveis biologicamente sustentáveis: Sem dados

- Acidez média marinha (pH) medida num conjunto representativo de estações de coleta: Sem dados

- Número de países que utilizam abordagens baseadas em ecossistemas para gerenciar áreas marinhas: Sem dados

- Índice de eutrofização costeira; e (b) densidade de detritos plásticos: Sem dados

Analisando tais indicadores e a carência atual de avanços, percebemos que apesar da costa de dimensão continental do Brasil, nem o fato de estarmos na Década dos Oceanos trouxe até o momento resultados significativos para a sustentabilidade dos oceanos.

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Precisamos urgente de uma lei do mar e um regramento participativo da pesca, que envolva e represente as comunidades pesqueiras, e esteja adequado à heterogeneidade de culturas, conhecimentos, práticas e condições ecossistêmicas.

Precisamos de instrumentos, políticas públicas e mecanismos para que governos e instituições priorizem as compras de produtos da pesca artesanal, com o intuito de reduzir desigualdades e promover justiça social.

Precisamos de um Instituto do Mar/dos Oceanos, com estrutura e corpo técnico capaz de monitorar nossa costa, produzir estatística pesqueira e chancelar certificação de pescarias que seguem boas práticas e são mais sustentáveis, já que hoje não há como falar de sustentabilidade pesqueira sem dados pesqueiros consistentes que confirmem conclusões.

Precisamos de mais unidades de conservação marinhas, desde que com envolvimento da sociedade e participação das comunidades pesqueiras que afetadas, para aliar conservação e tradição, preservando nossa fauna, flora, ambientes e culturas.

Precisamos de políticas efetivas para a redução na produção, uso e descarte de plásticos e outros poluentes aos oceanos, com esforços para engajamento da sociedade.

Precisamos, sobretudo, que tais temas sejam mais falados e divulgados. Que a saúde dos oceanos seja tema de conversa entre amigos, seja diariamente abordada na grande mídia. Que tenhamos mais programas, filmes e matérias sobre a costa brasileira, que conectemos universidades e seu conhecimento técnico com a população por meio de linguagem acessível, que a gente possa dar o mesmo peso das comunidades indígenas e quilombolas às comunidades pesqueiras e que, quem sabe, possamos demarcar os territórios e maretórios.

E que possamos, enfim, ver os 10 indicadores produzidos, com dados, mas também com resultados efetivos na mudança de hábitos, na gestão sustentável, no exemplo do Brasil como país que entende a importância das águas que banham sua costa.

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REFERÊNCIAS:

ONU Brasil - https://brasil.un.org/pt-br/sdgs/14
ODS Brasil - https://odsbrasil.gov.br/relatorio/sintese


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